O NU-9 pode potencialmente prevenir ou atrasar significativamente a cascata de eventos tóxicos que, ao final, leva à destruição dos neurônios — Foto: Getty Images
Cientistas da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, desenvolveram um medicamento experimental que demonstrou ser eficaz como uma intervenção precoce contra o Alzheimer em animais.
A droga, um composto chamado NU-9, reduziu um subtipo tóxico de oligômeros de beta-amiloide — aglomerados tóxicos de peptídeos — que parecem impulsionar algumas das alterações mais precoces no cérebro, incluindo disfunção neuronal, inflamação e ativação de células do sistema imunológico. Além disso, diminuiu os danos que o subtipo causou em camundongos com Alzheimer.
Segundo os pesquisadores, ao atuar sobre essas alterações logo no início da doença, o NU-9 pode potencialmente prevenir ou atrasar significativamente a cascata de eventos tóxicos que, ao final, leva à destruição dos neurônios.
“A doença de Alzheimer começa décadas antes do surgimento dos sintomas, com eventos iniciais como o acúmulo de oligômeros tóxicos de beta-amiloide dentro dos neurônios e a reatividade das células gliais muito antes de qualquer perda de memória ser perceptível”, explicou o autor do estudo, Daniel Kranz, em comunicado.
Ele continuou: “Quando os sintomas aparecem, a patologia subjacente já está avançada. Isso provavelmente explica por que muitos ensaios clínicos fracassaram: eles começam tarde demais. Em nosso estudo, administramos o NU-9 antes do surgimento dos sintomas, modelando essa janela precoce, pré-sintomática”.
O NU-9 foi desenvolvido há 15 anos como parte de um estudo de longo prazo de Richard Silverman, coautor do trabalho e professor do Departamento de Química do Weinberg College.
Em 2021, o composto demonstrou eficácia em animais com esclerose lateral amiotrófica (ELA), eliminando as proteínas tóxicas SOD1 e TDP-43 e restaurando a saúde dos neurônios motores superiores. Três anos depois, recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para iniciar testes clínicos em humanos.
Silverman e Kranz, junto com William Klein, professor de neurobiologia também no Weinberg College, agora demonstraram que o NU-9 também poderia tratar de forma eficaz a doença de Alzheimer.
Na primeira etapa do estudo, o medicamento mostrou ser capaz de eliminar oligômeros tóxicos de beta-amiloide em células cerebrais cultivadas em laboratório. Mais recentemente, os pesquisadores o administraram em camundongos pré-sintomáticos da doença de Alzheimer.
Os animais receberam uma dose oral diária durante 60 dias. E os resultados, publicados na revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, revelaram que houve redução da astrogliose reativa precoce, uma reação inflamatória que geralmente começa muito antes do surgimento dos sintomas.
O número de oligômeros tóxicos de beta-amiloide ligados aos astrócitos (células cerebrais em forma de estrela que protegem os neurônios e regulam a inflamação), bem como uma forma anormal da proteína TDP-43 (marcador de doenças neurodegenerativas associado a prejuízos cognitivos), também caíram.
As melhorias, salientaram os cientistas, foram observadas em várias regiões do cérebro, indicando que o fármaco exerce um efeito anti-inflamatório em diversas regiões do órgão.
A equipe, agora, vai acompanhar os animais por um período mais longo para determinar se os sintomas se desenvolvem nos camundongos tratados e examinar como a intervenção precoce com NU-9 afeta a memória e a saúde dos neurônios ao longo do tempo.


